Cris Azevedo

A lembrança mais antiga que tenho de mim sou eu deitada no chão de minha casa com um estojo de lápis de cor e um caderninho desenhando nuvens com cavanhaque, sol com grandes sorrisos, coisas do meu dia a dia de criança. Ainda pequena comecei a pintar com guache e depois, conforme crescia, experimentei outras técnicas: nanquim, pastel, aquarela e, por último, passei para a tela e a tinta a óleo. Sempre gostei da possibilidade de explorar as mais diferentes técnicas. Nos últimos anos, depois de uma perda enorme que tive na vida, procurei algo que pudesse novamente me dar energia. Encontrei essa energia na própria terra, na argila.

A cerâmica é um processo mágico de transformação daquilo que a natureza nos deu. Argila, fogo e eu. Através da cerâmica, tenho a oportunidade de criar, de moldar o que quero, desfazer, criar outra coisa, inventar, reinventar. Foi nesse processo de criação, invenção e reinvenção que eu mesma me reinventei, como artista e como pessoa. A cerâmica é um eterno aprender não só aprender a tratar a terra, mas aprender a desapegar, a ter paciência, a controlar a ansiedade, a aceitar, a trabalhar com as frustrações. Isso porque, até a peça estar totalmente finalizada, passa por um lento processo de secagem, queima, pintura e queima novamente. E nessa dupla transformação pelo fogo podem ocorrer muitas coisas não esperadas, surpresas boas e outras, às vezes, nem tanto.

Fazer cerâmica para mim é me integrar à natureza, é receber a energia da terra, é trabalhar sentindo o que o vento está soprando no meu ouvido. É isso que me inspira: as cores, os pássaros, as árvores, as coisas simples que nos cercam e nos fazem felizes.

@cris.azevedo.artes